´Aracaju: o passado e o presente é o futuro´ continua em exposição na galeria do Centro Administrativo da Prefeitura de Aracaju. A mostra fotográfica, organizada pela Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura, começou sendo um dos eventos comemorativos aos 155 anos da capital de Sergipe, mas o grande interesse do público fez com que a exposição se tornasse itinerante. O jornalista Cleomar Brandi traduziu bem a proposta da exposição no texto que segue, exibido como apresentação da mostra.
(Fotos: Allan de Carvalho)
´Aracaju: o passado e o presente é o futuro´
Por Cleomar Brandi
A mansidão de um rio guarda segredos imemoriais. Ele é história, é vida, meio de transporte, paisagem, referência geográfica, manancial de riquezas infinitas. Os rios têm seus berçários, escolhem suas rotas, costumam ser sinuosos, delgados, largos, imponentes ou tímidos. Eles saem por aí distribuindo fartura, guardando histórias do seu tempo, alimentando crendices ribeirinhas, umedecendo pernas cansadas de lavadeiras e, um dia, elegem o ponto exato do seu desaguar.
Aracaju foi eleita pelas águas dos rios como destino final. Um dia, brotado do segredo imemorial das suas águas, o traçado foi determinado e elas vieram rasgando a mata, cruzando chapadões, varando sertões, como se sentissem o cheiro do salitre oceânico guardado no litoral sergipano. E Aracaju se tornou a cidade eleita pelas águas dos rios. Aqui, eles delineiam contornos geográficos, ajudam a embelezar mais ainda a mãe de todos os aracajuanos, deixando em seu desaguar um quê de poesia urbana.
Esse é apenas um dos mistérios que fazem de Aracaju uma cidade única, atraente, bonita e vigorosa. Aqui, o movimento ritmado do pescador que joga a sua tarrafa coexiste perfeitamente com o novo jeito da modernidade de uma cidade que guarda, com zelo, seu passado, sua história, seu povo. Aqui, os mais antigos ainda guardam num canto da memória o ruído dos bondes sobre os trilhos, o burburinho dos finais de tarde da Sorveteria Iara, os maiôs Catalina que cobriam pudicamente a beleza das jovens em flor nas areias da Atalaia.
Num canto dessa memória dos mais antigos ainda desfilam imagens de elegantes senhores vestidos de terno nas ruas João Pessoa e José do Prado Franco. Sobre a cabeça, o indefectível chapéu Panamá ou Ramenzzoni. Tempos passados que se instalaram na memória dos mais antigos e fizeram moradia. As lagoas e charcos em volta do Batistão, a velha e perigosa curva do Iate Clube, a Praia Formosa, o mercado Thales Ferraz e a Ponte do Imperador, guardando sua aparente imponência.
O tempo passou. A cidade cresceu, deixou de ser menina, amorenou-se, ficou mais ágil, mais dinâmica, mais moderna, mais bela. Hoje, a imagem dos motorneiros conduzindo os bondes foi substituída por modernas e bem sinalizadas ciclovias, avenidas bem cuidadas, canteiros arborizados. O crescimento urbano conquistou o espaço vertical e o maior IDH do Nordeste chegou à varanda do tempo para dar as boas vindas às novas gerações.
Os novos tempos chegaram. Mas Aracaju conseguiu guardar, com zelo de artesão, a delicada ponte que une o passado ao presente e ao futuro. Os aracajuanos, por sua vez, também conseguiram conjugar, com muita maestria, o verbo “Aracajuar”. Em suas conjugações, “Aracajuar” significa olhar com amor a sua cidade, guardar no fundo do peito a silenciosa cumplicidade que deve existir entre o homem e a sua cidade.
“Aracajuar” é sentar num final de tarde num banquinho da praça, é sair por aí, andando sob as mangueiras e cajueiros do Parque da Sementeira sentindo o cheiro das manhãs da minha terra. “Aracajuar” é sair de bicicleta pelas ciclovias da cidade, de norte a sul, de leste a oeste, sem medo de ser atropelado. “Aracajuar” é sentir o cangote molhado de suor no ritmo do Forró Caju, é banhar-se no mar dessa cidade, guardar na memória o provocante tempero das moquecas aracajuanas nos finais de semana, sair por aí, “aracajuando”.
E assim, num final de tarde, guardado no colo dessa bela cidade, saber-se também ungido pelas águas e não esquecer que, agora, o passado e o presente é o futuro.
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